Quixotesco Tupiniquim e os moinhos do STF
- Rugério Vaz
- 14 de nov. de 2024
- 2 min de leitura

Em uma reviravolta digna das grandes epopeias, “Dom Quixote de la Mancha” agora se renova com uma alma tropical: Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, (nosso Dom Quixote tupiniquim) um homem de meia-idade que, imerso até a alma em boatos e teorias difusas nas redes sociais, perde o prumo e decide vestir a armadura imaginária da honra.
Ali, no texto de Cervantes em 1605, mas tão atual e tão perto da Praça dos Três Poderes, o Tiü França, nosso Dom quixote traça o seu delírio com um fervor singular: sobre o cavalo invisível da crença cega, ele parte, sem hesitar, de Santa Catarina até o centro de Brasília. Não são simples gigantes que ele vê. Aos olhos febris de nosso cavaleiro, as paredes do STF tremem como feras, ameaçando devorar sua pátria querida. Ele, imbuído de uma fé desvairada, ergue o estandarte da luta contra moinhos de vento que acredita serem tiranos.
Cada página dessa realidade que imita a arte é um espelho da insanidade: a pureza distorcida do que Tiü França chama de "honra", seu desespero por defender valores que ele mal entende, mas que defende com uma coragem trágica e cômica. Em sua cruzada moderna, ele arrasta seu fiel escudeiro – não um Sancho Pança, mas as sombras de outras almas perdidas em correntes de pensamento tão destrutivas quanto vazias.
Lá no alto da Praça, quando aciona o artefato, Francisco vira personagem final de uma tragédia brasileira. O grito mudo ecoa, não pela glória, mas pela própria loucura: seu sacrifício, um ato que, em sua cabeça, era de honra, torna-se a última nota de um riso amargo sobre a distorção de heroísmos fabricados.
Assim se encerra, com um toque de ironia imortal, a saga do Dom Quixote Tupiniquim, que trocou a lança pelo clamor nas redes e viu gigantes onde só havia pedra, imaginando-se herói numa batalha sem sentido, um personagem inventado pela própria fantasia.
Commentaires