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Sobre Viver no Limite: Esperança em Tempos Turvos

  • Foto do escritor: Rugério Vaz
    Rugério Vaz
  • 7 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura

Começo o dia entre os rituais que me sustentam: o café moído na hora, o queijo derretido entre duas fatias de pão tostadas na sanduicheira. Admito, quase em segredo, que ali vai também um toque de leite condensado – um gosto simples, que às vezes me incomoda confessar, como se fosse um sinal de algo que me aproxima de certa caricatura nacional. Mas a realidade não admite disfarces, e se vou narrá-la, que seja com a sinceridade de cada detalhe.


Me encaixo na classe que me molda, CLT, proletariado, e sou parte desse cotidiano de quem vive sempre contando os dias e os números na conta bancária. Como diria Belchior, “sem dinheiro no banco”. Hoje, a frase seria com uma modificação quase cruel: com dívidas no banco, navegando o limite do especial. Sou apenas mais um rapaz latino-americano, com alguns camaradas que respeitam minha caminhada, e às voltas com o próximo marco histórico que desponta no horizonte. Desde a crise econômica de 2008 até a pandemia de Covid-19, tenho assistido como quem vê de perto a crônica de um tempo que se transforma a cada tropeço.


Ando pelas ruas numa manhã de garoa, cada gota vai pesando mais sobre a camisa que escolhi com cuidado. Sinto, nessa calma, um contraste com a tempestade de fatos que nos cerca: o crescimento de um projeto de poder que nada tem a ver com nossos sonhos, os ecos das forças que lutaram e que hoje quase se extinguem. A verdade parece afogada por discursos rasos. Tenho uma ânsia de entender mais, de ver além, mas mesmo na minha percepção limitada já pressinto o quanto tudo é contraditório.


Às vezes me pergunto se há futuro para quem só conheceu o peso das marés desfavoráveis. O presente é um mar agitado, e a cada onda que quebra, sinto o impacto de viver num tempo que nos testa. Talvez, lá adiante, o que construímos hoje seja apenas uma nova base para recomeçar – uma resistência tímida, mas persistente. E se o futuro é incerto, que ao menos nossa lucidez seja o fio que nos mantém de pé, prontos para enfrentar o que vier, com a esperança de que essa luta por entendimento, por voz, um dia se traduza em dias mais claros.

 
 
 

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